Machado de Assis
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caíam . . .
Os olhos meio-cerrados
De volúpia e de ternura
Entre lágrimas luziam . . .
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiram . . .
Depois, naquele delírio,
Suave, doce martírio
De pouquíssimos instantes
Os teus lábios sequiosos,
Frios trêmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes . . .
Depois . . . depois a verdade,
A fria realidade,
A solidão, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei . . . silêncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.
Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.
E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!
És outra, calma, discreta,
Com o olhar indiferente,
Tão outro do olhar sonhado,
Que a minha alma de poeta
Não vê se a imagem presente
Foi a imagem do passado.
Foi, sim, mas visão apenas;
Daquelas visões amenas
Que à mente dos infelizes
Descem vivas e animadas,
Cheias de luz e esperança
E de celestes matizes:
Mas, apenas dissipadas,
Fica uma leve lembrança,
Não ficam outras raízes.
Inda assim, embora sonho,
Mas sonho doce e risonho,
Desse-me Deus que fingida
Tivesse aquela ventura
Noite por noite, hora a hora,
No que me resta de vida,
Que, já livre da amargura,
Alma, que em dores me chora,
Chorara de agradecida!
6 Encantamentos::
Quanta beleza há por aqui, combinou muito com esse dia azul daqui.
Abraços, flores e estrelas, Kiro...
Uma bela escolha para o dia nacional da poesia. Abraço, Kiro.
O teu dia é hoje, pequenino lápis da Dama poesia.
Um lindo presente para todos nós que nos embriagamos com teus desejos e gracejos,
Um baú de tesouro que caiu em nossos humildes pés de plebeus e que agora cativos do teu brilho não podemos mais fugir
Um doce e meigo presente dos acaso ou até mesmo destino, por que não. Anjos existem e moram nos corações mais preparados para ofertar o que tem de bom, o amor!
Uma poetisa como tu, inebria e contagia a quem de ti se aproxima.
Parabéns e uma boa semana
Oi Kiro! Gostei muito dos comentários. Bjs!
Kiro,
Lindo demais! Mas não posso deixar de elogiar também a escolha da imagem: quanta delicadeza! E tudo a ver com o poema!Beijos mil!!
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O texto de hoje se refere a
Santos Dumont, mas a mulher
nele, contida, é você...
silvioafonso
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