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Os imortais vivem entre nós, poesias lindas e feitas de brisa do amanhecer!

Quero fazer um convite, quero conhecer vossos gostos!

Vou postar poesias dos imortais que cada um me mandar, aquela que te faz vibrar, manda-me por email, face, blog, msn, qualquer maneira!

kiromenezes@hotmail.com

Manda-me sua poesia Imortal!

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Meus oito anos (Casimiro de Abreu)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

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Oh! Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das goiabeiras...




Casimiro de Abreu




A um poeta (Por Antero de Quental)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


A um poeta


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Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!


Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!




Antero de Quental



Timidez

segunda-feira, 3 de outubro de 2011



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...


— palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,


— que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...


— e um dia me acabarei.


Cecília Meireles


Poesia de Cecília Meireles

quinta-feira, 22 de setembro de 2011



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O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.




Cecília Meireles


Parte trazida por
Auxiliadora RS



Amor e Tempo (Padre Antonio Vieira)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011


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Tudo cura o tempo, 
tudo faz esquecer, 
tudo gasta, 
tudo digere,
 tudo acaba. 

Atreve-se o tempo a colunas de mármore, 
quanto mais a corações de cera! 

São as afeições como as vidas, 
que não há mais certo sinal 
de haverem de durar pouco, 
que terem durado muito. 

São como as linhas, 
que partem do centro para a circunferência, 
que quanto mais continuadas, 
tanto menos unidas. 

Por isso os antigos 
sabiamente pintaram o amor menino; 
porque não há amor tão robusto 
que chegue a ser velho. 

De todos os instrumentos 
com que o armou a natureza, 
o desarma o tempo. 

Afrouxa-lhe o arco, 
com que já não atira;
embota-lhe as setas, 
com que já não fere; 
abre-lhe os olhos, 
com que vê o que não via; 
e faz-lhe crescer as asas, 
com que voa e foge. 

A razão natural de toda esta diferença 
é porque o tempo tira a novidade às coisas, 
descobre-lhe os defeitos, 
enfastia-lhe o gosto, 
e basta que sejam usadas 
para não serem as mesmas. 

Gasta-se o ferro com o uso, 
quanto mais o amor?! 

O mesmo amar é causa de não amar 
e o ter amado muito, de amar menos.


Padre Antônio Vieira


Poema de Garcia Loca

http://vidaseverdades.blogspot.com



"Un ataúd con ruedas es su cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.

El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.

A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.

Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.

A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombras de la tarde!"


...

Federico García Lorca - Espanhol.




"Um caixão sobre rodas é sua cama
às cinco da tarde.
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Ossos e flautas ressoam em seu ouvido
às cinco da tarde.

Seguido do touro na testa
às cinco da tarde.
A sala estava iridescente em agonia
às cinco da tarde.

Na distância a gangrena já
às cinco da tarde.
Chifre do lírio verde Inglês
às cinco da tarde.

As feridas queimavam como sóis
às cinco horas,
e a multidão quebrou as janelas
às cinco da tarde.

Às cinco da tarde.
Oh, que terrível cinco da tarde!
Eram cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde de sombras! "



Tradução Google Tradutor


Tropicana

terça-feira, 20 de setembro de 2011

http://deusasdooriente.blogspot.com/





Morena Tropicana




Composição: 
Alceu Valença/Vicente Barreto




Da manga rosa
Quero gosto e o sumo.
Melão maduro, sapoti, juá.
Jaboticaba, teu olhar noturno;
Beijo travoso de umbú cajá.

Pele macia,
Ai! carne de cajú!
Saliva doce, doce mel,
Mel de uruçú.

Linda morena,
Fruta de vez temporana,
Caldo de cana caiana,
Vem me desfrutar!

Morena Tropicana,
Eu quero teu sabor.


Se cada dia cai

segunda-feira, 5 de setembro de 2011




Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda

Por Alberto Santos Dumont

sexta-feira, 2 de setembro de 2011


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Haverá hoje, 
talvez, 
quem ridicularize minhas previsões
sobre o futuro dos aeroplanos. 

Quem viver, porém vera! 


Alberto Santos Dumont, 
Paris 1905



Cinco minutos - José de Alencar

quinta-feira, 1 de setembro de 2011



Foto de Bia Menezes







Cinco minutos





Um dia iras errante pelas vastas solidões dos mares
ou pelos cimos elevados das montanhas, longe do mundo,
sob o olhar protetor de Deus,
à sombra dos cuidados de nossa mãe,

mas até isso viveremos tanto um com o outro,
encheremos de tanta afeição os nossos dias, as
nossas horas, os nossos instantes juntos, que,
por mais curto que seja o nosso tempo juntos,
teremos vivido por cada minuto séculos de
amor e de felicidade.

Eu espero; mas temo.

Espero-te como a flor desfalecida espera o raio de sol que
deve aquecê-la, a gota de orvalho que pode animá-la, o hálito
da brisa que vem bafejá-la.

Porque para mim o único céu que hoje me sorri, são teus olhos;
o calor que pode me fazer viver, é o do teu seio.

Tens mais dúvidas do meu amor?


José de Alencar 



Por FlorBela Espanca

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Foto de Kiro Menezes


Nosso sonho morreu. Devagarinho,
Rezemos uma prece doce e triste
Por alma desse sonho! Vá… baixinho…
Por esse sonho, amor, que não existe!


Vamos encher-lhe o seu caixão dolente
De roxas violetas; triste cor!
Triste como ele, nascido ao sol poente,
O nosso sonho… ai!… reza baixo… amor…

Foste tu que o mataste! E foi sorrindo,
Foi sorrindo e cantando alegremente,
Que tu mataste o nosso sonho lindo!

Nosso sonho morreu… Reza mansinho…
Ai, talvez que rezando, docemente,
O nosso sonho acorde… mais baixinho…



Florbela Espanca



Meu Sonho (Cecília Meireles)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Foto de Kiro Menezes


Meu Sonho (Cecília Meireles)


Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...


Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.


Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?


Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar...


Poesia de Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 20 de junho de 2011




Por Antoine de 
Saint-Exupéry



As pessoas têm estrelas que não são as mesmas.

Para uns, que viajam, as estrelas são guias.

Para outros, elas não passam de pequenas luzes.

Para outros, os sábios, são problemas.

Para o meu negociante, eram ouro.




Mas todas essas estrelas se calam.

Tu porém, terás estrelas como ninguém...

Quero dizer: quando olhares o céu de noite,

(porque habitarei uma delas e estarei rindo),

então será como se como se todas as estrelas te rissem!




E tu terás estrelas que sabem sorrir!

Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido.

Tu serás sempre meu amigo

(basta olhar para o céu e estarei lá).




Terás vontade de rir comigo.

E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto...

e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu.

Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!



Fumo (Florbela Espanca)

terça-feira, 14 de junho de 2011




Fumo



                                             (Florbela Espanca)



Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...


Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


A menina dos meus olhos (Por Alceu Valença)

sexta-feira, 10 de junho de 2011




A Menina Dos Meus Olhos


Alceu Valença




A menina dos meus olhos tem no rosto uma romã
E um sorriso que deságua no meu céu toda manhã
Tem o fogo das serpentes e a pureza do cristal
e a forma que o desejo só acha no carnaval


A menina dos meus olhos tem a cor de azul não sei
a mistura do que vi e o não acreditei
faz inveja a natureza quando se banha na Lua
Alegra minha vaidade quando me diz "Eu sou tua"


A menina dos meus olhos que eu namoro todo dia
Me redime dos pecados que a lida propicia
de não ser o que pareço mas se fosse não seria
Esse tanto pelo avesso que melhor não poderia



Poemeto Erótico (Manuel Bandeira)

segunda-feira, 23 de maio de 2011






Poemeto Erótico




Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...


Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...


Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...


Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro 


É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...


A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...


Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...




 (Manuel Bandeira)


Não se Mate (Carlos Drummont de Andrade)

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Não se Mate


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.



Carlos Drummond de Andrade


Mocidade e Morte (Castro Alves)

quinta-feira, 19 de maio de 2011




Mocidade e Morte


Castro Alves



E porto avisto o porto
Imermo, nebuloso, o sempre noite
Chamado — Eternidade. —
Laurindo.

Lasciate ogni speranza, voi
ch'entrate.
Dante.
Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama
os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n'amplidão
dos mares.

No seio da mulher há tanto
aroma...
Nos seus beijos de fogo há
tanta vida...
Árabe errante, vou dormir à
tarde
A sombra fresca da palmeira
erguida.
Mas uma vez responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher-camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...
E a mesma vez repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: — impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.

Vejo além um futuro radiante:

Avante! — brada-me o talento n'alma
E o eco ao longe me repete-avante!—
O futuro... o futuro... no seu seio...
Entre louros e bênçãos dorme a glórial
Após-um nome do universo n'alma,

Um nome escrito no Panteon da história.
E a mesma voz repete funerária: —
Teu Panteon-a pedra mortuária!
Morrer-é ver extinto dentre as névoas
O fanal, que nas guia na tormenta:
Condenado — escutar dobres de sino,

— Voz da morte, que a morte lhe lamenta—
Ai! morrer — é trocar astros por círios,
Leito macio por esquife imundo,
Trocar os beijos da mulher — no visco
Da larva errante no sepulcro fundo.
Ver tudo findo... só na lousa um nome,

Que o viandante a perpassar consome
E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu'inda mesmo flórido,

Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo— que vaga sobre o chão da morte,
Morto-entre os vivos a vagar na terra.
Do sepulcro escutando triste grito
Sempre, sempre bradando-me: maldito! —
E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,

Quando a sede e o desejo em nós palpita...
Levei aos lábios o dourado pomo,
Mordi no fruto podre do Asfaltita.
No triclínio da vida— novo Tântalo —
O vinho do viver ante mim passa...
Sou dos convivas da legenda Hebraica,

O 'stilete de Deus quebra-me a taça.
É que até minha sombra é inexorável,
Morrer! morrer! soluça-me implacável.
Adeus, pálida amante dos meus sonhos!
Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!

Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga

Os prantos de meu pai nos teus cabelos.
Fora louco esperar! fria rajada
Sinto que do viver me extingue a lampa...
Resta-me agora por futuro — a terra,
Por glória-nada, por amor-a campa.

Adeus! arrasta-me uma voz sombria
Já me foge a razão na noite fria!...


Uma Cartinha Tua (Graciette Salmon)

quarta-feira, 18 de maio de 2011


UMA CARTINHA TUA


Graciette Salmon 
(Poetisa Paranaense)


Uma cartinha tua! Em minha mão,
como ave assustada, ela estremece,
qual se de dentro de si a mim trouxesse
palpitante, a fremir, teu coração.
Uma cartinha tua! Que emoção!
Ao meu redor tudo desaparece
e apenas tua imagem permanece
para meu culto e minha adoração!
Digo teu nome, como numa prece...
... não sei se é pranto que dos olhos desce,
... não sei se treme a carta ou minha mão.

(O que ficou do Sonho)

As Andorinhas de Antônio Nobre (Cassiano Ricardo)

terça-feira, 10 de maio de 2011


As Andorinhas
de 
Antônio Nobre


(Cassiano Ricardo)



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ten
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da
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de me-
tal

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do
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tam

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ta
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ma
cl'a-
ve
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sol



Imagem (Manuel Bandeira)

quinta-feira, 5 de maio de 2011




IMAGEM


Manuel Bandeira


És como um lírio alvo e franzino,
Nascido ao pôr do sol, À beira d'água,
Numa paisagem erma onde cantava um sino
A de nascer inconsolável mágoa.

A vida é amarga. O amor, um pobre gozo...
Hás de amar e sofrer incompreendido,
Triste lírio franzino, inquieto, ansioso,
Frágil e dolorido...



Acaso (Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Blog Evandro F. Farias - www.evandrofarias.com.br
A imagem condiz com o "tamanho" da poesia!



ACASO
(Antoine de Saint-Exupéry)



"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.

Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.

Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.

Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontre ao acaso"

Vem por aqui (José Regio)

terça-feira, 26 de abril de 2011




Vem por aqui  



(José Regio)




Dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços,
e seguros de que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem:

"vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha mãe

Não, não vou por aí!

Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se aos que busco saber nenhum de vós respondeis
Por que me repetis:

"vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo,
Foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faça não vale nada.

Como pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias o sangue velho dos avós,
E vós amais o que é mais fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos,
as torrentes,
os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a,
como um facho,
a arder na noite escura,
E sinto espuma,
e sangue,
e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam
Mais ninguém !!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga:

"vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei para onde vou,
Não sei por onde vou

Sei que não vou por aí!



Pálida à Luz (Álvares de Azevedo)

quarta-feira, 20 de abril de 2011




Pálida à Luz




Álvares de Azevedo



Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!


Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando


Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!


O Auto-Retrato (Mario Quintana)

terça-feira, 19 de abril de 2011



O AUTO-RETRATO



Mario Quintana


No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco



Que é - Simpatia (Casimiro de Abreu)




Que é - Simpatia



Casimiro de Abreu




Simpatia é um sentimento
que nasce num só momento,
sincero no coração,
são dois olhares acesos
bem juntos, unidos presos
numa mágica atração.

Simpatia são dois galhos
banhados de bons orvalhos
nas mangueiras do jardim
bem longe às vezes nascidos
mas que se juntam crescidos
e que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
que riem no mesmo riso,
que choram nos mesmos ais.
São vozes de dois amantes
duas linhas semelhantes
ou dois poemas iguais!

Simpatia meu anjinho
é o canto do passarinho
é o doce aroma da flor
são nuvens d'um céu de agosto
é o que me inspira teu rosto
Simpatia é quase amor!




Amor Pagão (Manuel Guimarães)

sexta-feira, 15 de abril de 2011


Amor Pagão


Manuel Guimarães




Quero ver dos teus olhos, lá no fundo,
a minha pobre imagem reflectida.
Já que sem eles, para mim, o mundo
é uma triste imagem, só, da vida.

Quero ver nos teus olhos, esbatida,
a ansiosa expressão do meu olhar,
se tendo-te nos braços, soerguida,
muito de manso te quiser beijar.

Sim, nós havemos de beijar-nos tanto
e sorver desses beijos todo o encanto
num misto de doçura e de desejo...

Que os nossos beijos, como as nossas vidas,
tenham as nossas bocas sempre unidas
como se fora sempre o mesmo beijo


DODECASSÍLABOS (Euclides da Cunha)

quarta-feira, 13 de abril de 2011






DODECASSÍLABOS



(Euclides da Cunha)



Estala na mudez universal das coisas
estrídulo tropel de cascos sobre pedras
e naquela assonância ilhada no silêncio
o cataclismo irrompe arrebatadamente.

O doer infernal das folhas urticantes
corta a região maninha das caatingas
fazendo vacilar a marcha dos exércitos
sob uma irradiação de golpes e de tiros.

Por fim tudo se esgota e a situação não muda,
lembrando um bracejar imenso, de tortura,
em longo apelo triste, que parece um choro.

Num prodigalizar inútil de bravura
desaparecem sob as formações calcáreas
as linhas essenciais do crime e da loucura.







Fernando Pessoa

quarta-feira, 6 de abril de 2011




De um Imortal:




Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa


Adeus, Meus Sonhos! (Álvares de Azevedo)

terça-feira, 5 de abril de 2011




Adeus, Meus Sonhos!


(Álvares de Azevedo)

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!


Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.


Que me resta, meu Deus?


Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!




De Camões

sexta-feira, 1 de abril de 2011



Uma genialidade de 

Camões:



Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes, nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal que mata e não se vê:

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.





Vejá lá se há mesmo como não citá-lo!!!

Belíssimo...


De um Genio

quinta-feira, 31 de março de 2011


Amor quando é amor não definha

E até o final das eras há de aumentar.

Mas se o que eu digo for erro

E o meu engano for provado

Então eu nunca terei escrito 

Ou nunca ninguém terá amado.


Willian Shakespeare



Um dos poetas mais admiráveis entre os tantos que aplaudo e saúdo!
Obrigada ao Pai por ter-mo abençoado 
com o conhecimento da leitura,
Assim me delicio, sorvo e vivo em poesias magnificas
assim...
Como esta de Willian ♥

Oceano (Por Antero de Quental)

terça-feira, 29 de março de 2011

Oceano 

(Antero de Quental)

Junto do mar, que erguia gravemente
À trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...



Para Viver um Grande Amor (Carlos D. Andrade)

segunda-feira, 28 de março de 2011



Para Viver um 
Grande Amor


(Carlos Drummond de Andrade)


É preciso abrir todas as portas que fecham o coração.
Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo,
Por amores do passado que foram em vão
É preciso muita renúncia em ser e mudança no pensar.
É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito para nós!
É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar!
É preciso renunciar ao que não agrada ao seu amor...
Para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura,
Aparando as arestas que podem machucar.
É como lapidar um diamante bruto...para fazê-lo brilhar!
E quando decidir que chegou a sua hora de amar,
Lembre-se que é preciso haver identificação de almas!
De gostos, de gestos, de pele...
No modo de sentir e de pensar!
É preciso ver a luz iluminar a aura,
Dando uma chance para que o amor te encontre
Na suavidade morna de uma noite calma...
É preciso se entregar de corpo e alma!
É preciso ter dentro do coração um sonho
Que se acalenta no desejo de: amar e ser amada!
É preciso conhecer no outro o ser tão procurado!
É preciso conquistar e se deixar seduzir...
Entrar no jogo da sedução e deixar fluir!
Amar com emoção para se saber sentir
A sensação do momento em que o amor te devora!
E quando você estiver vivendo no clímax dessa paixão,
Que sinta que essa foi a melhor de suas escolhas!
Que foi seu grande desafio... e o passo mais acertado
De todos os caminhos de sua vida trilhados!
Mas se assim não for...
Que nunca te arrependas pelo amor dado!
Faz parte da vida arriscar-se por um sonho...
Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado!
Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado.
Ele se chama TEMPO... seu melhor amigo.
Só ele pode dar todas as certezas do amanhã...
A certeza que... realmente você amou.
A certeza que... realmente você foi amada."


Tarsila do Amaral (Poeta de Imagens)

sábado, 26 de março de 2011

O Lago



Operários



De Tarsila do Amaral




 A poesia escolhe seus intérpretes. 
O encanto das imagens passam mais 
que mil palavras traduziriam!


Parabéns aos Grandes


Canto de Regresso à Pátria (Por Oswaldo de Andrade)

sexta-feira, 25 de março de 2011



Canto de Regresso à Pátria

Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.


Deixa o Olhar do Mundo (Por Olavo Bilac)

quinta-feira, 24 de março de 2011




Deixa o Olhar do Mundo


(Olavo Bilac)




Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos!
Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais!
Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome

De te exaltar aos olhos do universo...
Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.


Frase de Alberto Santos Dumont

quarta-feira, 23 de março de 2011

"No começo deste século, nós, os fundadores da Aeronáutica, havíamos sonhado com um futuro pacífico e grandioso para ela. Mas a guerra veio, apoderou-se de nossos trabalhos e, com todos os seus horrores, aterrorizou a humanidade. "

Frases de Guerra
Por Alberto S. Dumont


A mulher perfeita (Paulo Coelho)

terça-feira, 22 de março de 2011



A mulher perfeita

Nasrudin conversava com um amigo:

– Então, Mullah, nunca pensaste em casamento?

– Muito. – respondeu Nasrudin – Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. 
Atravessei o deserto, 
estive em Damasco e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada das coisas do mundo. 
Continuei a viagem e fui a Isfahan; lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita. 
Então resolvi ir até o Cairo, onde, finalmente, jantei na casa de uma moça bonita, religiosa e conhecedora da realidade material.

– E por que não casaste com ela?

– Ah, meu companheiro! Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.




Poesia de Manuel Bandeira

segunda-feira, 21 de março de 2011





A Morte Absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.



Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.



Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?



Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.



Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."



Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.



Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

sexta-feira, 18 de março de 2011


Canção do Exílio




Gonçalves Dias







Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores.


Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar – sozinho, à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.


Coimbra – Julho 1843



A tristeza (Gonçalves de Magalhães)

quinta-feira, 17 de março de 2011

A tristeza

Gonçalves de Magalhães


Triste sou como o salgueiro
Solitário junto ao lago,
Que depois da tempestade
Mostra dos raios o estrago.

De dia e noite sozinho
Causa horror ao caminhante,
Que nem mesmo à sombra sua
Quer pousar um só instante.

Fatal lei da natureza
Secou minha alma e meu rosto;
Profundo abismo é meu peito
De amargura e de desgosto.

À ventura tão sonhada,
Com que outrora me iludia,
Adeus disse, o derradeiro,
Té seu nome me angustia.

Do mundo já nada espero,
Nem sei por que inda vivo!
Só a esperança da morte
Me causa algum lenitivo.